Menu

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Coisas que envelhecem bem

Os melhores vinhos são aqueles que, levando em consideração o tipo de uva, safra e as regras básicas das CNTPs, envelhecem bem com o tempo. Para quem entende do assunto, tem um monte de outras equações místicas envolvidas nesse processo, mas o fato é que, ao contrário do que os neuróticos vendedores de cosméticos dizem, há coisas que levam tempo para atingir sua melhor forma: Balzac poderia falar sobre as mulheres, eu prefiro os jeans.

Como toda boa história do mundo da moda, essa começa na França, em uma cidadezinha rica em minério chamada Nimes. Foi lá onde o alemão Levi Strauss, junto ao letão Jacob Davis, tiveram a grande sacada: por que não utilizar aquele tecido feioso, resistente, que sempre viam como cobertura de barracas e caminhões para fabricar calças para os trabalhadores das minas? E assim foi. Os jeans, sagrados até os dias de hoje, foram sendo aprimorados até que, nos anos 50, Marlon Brando e James Dean apareceram nas telas de cinema vestindo nada mais que camisetas brancas, óculos escuros e as famosas calças. A partir daí, os jeans se tornaram a grande bandeira da turma jovem e revolucionária: nos anos 50 no estilo sedutor, com as calças mais justas, botinhas sem meia e jaquetas de couro perfecto. Nos 70, foram a bandeira hippie do desapego com as peças totalmente detonadas dotadas de bocas-de-sino exageradamente largas e até os dias de hoje, quando a variedade de cores, tecidos e tendências atinge seu auge as calças continuam lá, no alto do podium.

Milênio vai, milênio vem e os jeans, assim como os vinhos, só melhoram com o tempo. E não estou falando da “espécie” como um todo, que tende a se aprimorar de acordo com as novidades tecnológicas que vão surgindo, mas falo da peça que todos temos dentro do armário e que, depois de utilizada, se modifica e fica ainda melhor. A “memória” do tecido vai arquivando os movimentos e as curvas do corpo, tornando as calças cada vez mais confortáveis e mais difíceis de abandonar. Quem nunca teve aquela calça surrada insubstituível? Pode estar rasgada, encardida, desbotada, não importa, não há modelito novo que invada o armário e tome seu lugar. O casamento entre nós e nossos jeans são verdadeiramente duradouros, até que a morte nos separe e aí, amém.


por Mariana Negreiros

domingo, 28 de agosto de 2011

AlCast 002: Mania de olhar para trás



Lunáticos, ouvintes e leitores, está no ar o segundo episódio do AlCast - o podcast do Aventura de Ler! Neste episódio, Raphaela Leite , Juliana Giglio, Mariana Negreiros e Thiago Ortmann falam sobre a onda vintage e a mania de olhar para trás.

Pedimos desculpas pelos problemas com o som desta vez, mas já estamos resolvendo isso para o próximo episódio!

Um pouco sobre o que falamos:


Trilha de abertura: 'Malt Bop Shop'
(http://www.incompetech.com)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Estou lendo: "Os Três Mosqueteiros"

Como mencionei no primeiro episódio do AlCast, atualmente estou (re)lendo Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas. Meu primeiro contato com o romance foi em uma daquelas edições "condensadas e revistas", e já fazia algum tempo. Então, resolvi procurar uma edição mais fiel ao original.

A escolhida foi a versão de bolso publicada pela Zahar. O texto flui muito bem, o que já é em si uma grata surpresa, já que o original é de 1844 - desafio duplo de tradução e de adaptação! Além disso, a edição é muito bonita, em capa dura, e ainda vem com uma daquelas fitinhas para marcar a página - o que é sempre um bônus, já que muitas vezes eu me pego marcando livros com notinhas fiscais ou o que mais estiver por perto.

Bom, fica aqui o registro, já que, na empolgação do podcast, me esqueci de falar sobre isso.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

AlCast 001: Heróis da Infância



Lunáticos, ouvintes e leitores, está no ar o primeiro episódio do Al Cast - o podcast do Aventura de Ler! Neste episódio, Juliana Giglio, Brenno Quadros, Raphaela Leite e Victor Mattina falam sobre seus heróis de infância, cosplay, como é escrever sobre assuntos muito próximos ao coração, revisitar coisas que gostávamos na infância com o olhar maduro e o que andamos lendo e vendo ultimamente.

Trilha de abertura: 'Malt Bop Shop'
(http://www.incompetech.com)

Errata: o amigo de Simon Pegg se chama Nick Frost e não Mark.

Super 8




Antes mesmo de assistir o novo filme de J.J.Abrams, Super 8, tinha certeza que gostaria. Tudo que girava em torno da produção me interessava, desde o trailer até o aplicativo para iPhone, mas principalmente a estética cinematográfica dos anos 80.  Abrams despertou minha atenção com a sua bem sucedida refilmagem de Star Trek, mas foi quando vi o nome de Steven Spielberg estampado no cartaz de Super 8 que aceitei J.J. Abrams no meu coração.

A odisséia começa quando resolvo ir à estréia do filme no recém inaugurado Imax. Com certo desgosto me dirijo a um shopping center, quando tudo que eu desejava era a experiência do cinema de bairro, com tela grande e aquela pipoca sem cheiro de manteiga, como antigamente. Apagam-se as luzes e na tela aparece o logo da “Amblin Entertainment”, a produtora de Spielberg, exatamente igual ao que se via nos anos 80. Daí em diante, eu já estava dentro da história.

Super 8 é retrô em tudo, menos nos efeitos especiais e na velocidade das cenas de ação. Para marmanjos, é impossível não lembrar de E.T e Contatos Imediatos do Terceiro Grau, claro, filmes de Spielberg. Quando o grupo de jovens atores começa sua jornada sem medo algum do perigo, me dei conta de estar presenciando o que poderia vir a ser Os Goonies (também uma produção de Spielberg) desta geração. Mas ao acender as luzes, após 1 hora e 52 minutos de pura emoção, percebi o público da sessão, composto basicamente de adultos. Provavelmente, todos em busca da magia dos anos 80.


O cinema dos anos 70 é considerado por alguns como a “Nova Onda Americana”, conhecido pela transgressão e liberdade na abordagem de temas antes considerados tabu. Era uma geração de cineastas bem educada, filha da contracultura e jovem. Steven Spielberg vem dessa escola e marca, juntamente com George Lucas (diretor da saga Star Wars), o seu fim. A dupla é considerada responsável pelo início do pensamento blockbuster mas, sem dúvida alguma, também é responsável pela volta do cinema como entretenimento familiar. Talvez venha daí a relação mágica de muitas pessoas com os filmes dessa época. Durante a exibição de Super 8, fui tele transportada para a sala de cinema em que assisti todas aquelas produções, levada pelo meu pai. Desconectada de todo julgamento, me deixei envolver apenas pela emoção e essa é a vitória de J.J. Abrams.

Obcecados, mas não vilões


Tenho uma coleção de quadrinhos há 15 anos compartilhada com dois de meus maiores amigos. Coleção compartilhada, caso raro mas real.

Manter uma coleção com outras pessoas tem muitas vantagens. A primeira é a possibilidade de ampliar a quantidade de itens colecionáveis. No caso das histórias em quadrinhos, por exemplo: mesmo que haja interesse por apenas um gênero (super-heróis americanos ou faroeste...), pode ser um tremendo rombo no orçamento de qualquer um arcar com tudo sozinho. Com um sócio na coleção, você pode torná-la mais diversificada e farta, cada um cuidando de um subgênero.

Outra grande vantagem é dispor de mais espaço para guardar a coleção. Ela não precisa estar toda em um mesmo lugar, pode ser dividida entre as casas dos sócios- colecionadores. Imagine isso: os donos da coleção teriam acesso mais ou menos livre à casa do outro sempre que quisesse pegar algumas das edições que lá estão. Para estabelecer uma parceria destas é preciso investir na amizade de quem tem afinidade com você. Essa relação é coisa séria, nada a ver com bate-papos entre colecionadores que só comparam suas coleções. Se você optar por colecionar em grupo, deve começar por escolher bem com quem você vai partilhar seu hobby, pois se espera que essa relação seja para a vida toda.

Esta relação deve se estender aos familiares de seus sócios, ou pode ocorrer o que disse Geraldo Cachola, dono de 250 mil gibis e especializado em revender revistas usadas. Ele afirmou no nº24 da revista “Mundo dos Super-Heróis” que adquire a maioria de suas revistas de viúvas de colecionadores, que se desfazem delas a preço de banana, sem ter noção real de seu valor.

A relação entre revendedores e familiares de colecionadores mortos foi retratada com muita propriedade no filme Vilões por acaso (Comic book vilains, 2002), escrito e dirigido por James Robinson – ele mesmo um colecionador inveterado de gibis, e conhecido roteirista de quadrinhos americanos consagrados (Superman, Starman e Era de Ouro, já publicados no Brasil). No filme, os donos de duas comic shops querem comprar a coleção de um colecionador morto, cuja mãe se recusa a vender porque não vai com a cara deles. Obcecados, eles passam a agir como os supervilões dos quadrinhos que fazem de tudo para conseguir.

Se meus amigos e eu não tivéssemos feito nosso acordo certamente eu teria deixado de ler muitas obras que hoje estão entre as minhas preferidas. E o fato de termos esta coleção em comum, que hoje tem cerca de 15 mil gibis de todos os gêneros, virou um fator primordial para que continuássemos sempre a nos ver. Nossos encontros não são apenas para falar de quadrinhos e apresentar o material recém-comprado. Falamos de gostos que temos em comum – cinema, literatura, séries de TV... – e falamos sobre nós mesmos. Enquanto outras amizades da adolescência foram ficando para trás, os gibis acabaram por reforçar nosso elo.