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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Cara, cadê minha exposição?

Andando pelas estações de metrô de Paris, passo por um cartaz do Louvre com a inconfundível faixa vermelha com letras brancas avisando: DERNIERS JOURS (últimos dias). Quando as últimas semanas de uma exposição temporária se aproximam, esses avisos se multiplicam pelos anúncios na cidade (em estações e ônibus, por exemplo), convocando os esquecidos ou os inadvertidos a aproveitar o que logo logo termina...

Confesso que tenho um prazer quase oculto e perverso de saber que pude visitar uma exposição temporária concorrida. Esse ano, foram três grandes: a Sainte Anne de da Vinci foi o tema central de uma no Louvre no primeiro semestre; a moda e o impressionismo ocuparam o Musée d'Orsay; e Rafael em seus últimos anos ocupa agora o salão de exposições temporárias do Louvre, até o início do ano que vem. Além da exposição sobre Tim Burton que foi montada na cinemateca de Paris.

Poder ver obras que geralmente ficam escondidas nos acervos técnicos ou em museus distantes é um dos pontos altos dessas exposições - exatamente como a que o d'Orsay trouxe para o Brasil, primeiro para São Paulo, depois para o Rio. Não tive a oportunidade de visitá-la, mas quem foi me garantiu que está primorosa - e ainda dá tempo de conferir (fica até dia 13 de janeiro)! O Centro Cultural do Banco do Brasil, aliás, é sempre uma boa pedida para quem gosta de exposições, e a arquitetura do prédio também vale uma visita por si só.
Foto da Paula, que foi à exposição
Mas a minha experiência mais marcante com museus e exposições no Rio - além das visitas constantes ao palácio imperial em Petrópolis, durante toda a minha infância - é a exposição temporária que trouxe Rodin para o Museu Nacional de Belas Artes. Lembro-me perfeitamente da movimentação na Cinelândia, da fila quilométrica dando a volta no quarteirão, e de ver, pela primeira vez, as obras do escultor que entrou para a minha lista de artistas plásticos preferidos.
Meu Rodin favorito (do ano): Le Baiser,  cerca de 1882, mármore
Foto do site do museu Rodin
É verdade que "visitar museu" não está na lista de atividades favoritas da maioria das pessoas que conheço. Mas, como disse logo aqui em cima, desde criança me divirto em passar horas andando por corredores e olhando através de vitrines ou examinando quadros (embora não seja fã de arte contemporânea, mas isso é outra história). É uma pena que, no Rio, onde temos tantos museus disponíveis, eles sejam na maior parte das vezes escondidos, desconhecidos ou mal-cuidados - ou as três coisas. Aí, vejo a fila e as estatísticas da exposição no CCBB, me lembro da minha filinha para ver Rodin... Sei que tem gente que vai nesses eventos simplesmente para dizer eu estive lá, sem se importar muito com o que está vendo ou deixando de ver. Mas acredito que uma parte significativa dos visitantes esteja realmente curtindo a experiência, aproveitando cada momento diante das obras que só conheceu através de reproduções em livros ou pela internet. Fica difícil dizer então que simplesmente não existe interesse por exposições, certo?

Não quero trazer soluções - longe de mim! Estou mais para Taz, do tipo que chega como um mini-furacão e sai bagunçando tudo pelo caminho. Mas acho que vale a pena a gente pensar no que faz o CCBB receber tantos visitantes em uma exposição como a trazida pelo d'Orsay e ficar, de uma maneira geral, bem vazio em suas salas da coleção permanente ao longo do ano. Ou então por que o Museu Nacional de Belas Artes, com um acervo tão rico, parece estar fora do radar da maior parte das pessoas que andam pelo centro da cidade.
Foto de Luis Guilherme, encontrada no flickr
A vontade de ver uma coleção de obras geralmente inacessíveis ao grande público brasileiro conta, e muito, para essa invasão de visitantes. É o impulso para presenciar o que logo logo não estará mais ali, enquanto o acervo permanente sempre dá a sensação de que podemos deixar para depois. Eu mesma me confesso culpada disso - é meu prazer secreto, lembra?

É engraçado. Falamos e repetimos que a arte (pelo menos a arte clássica, aquela do cânon) é imortal. "A arte imortaliza o artista!" "A verdadeira arte a tudo sobrevive!" E, mesmo assim, nós corremos para o museu quando a arte está anunciada como temporária e fugidia, e fazemos filas e tiramos fotos e postamos nos instagrams e twitters e facebooks sobre estar lá.
Eu disse que era culpada...
Ou seja: arte é legal. Mas é mais legal ainda quando ela vai embora dali a pouco.