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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Férias culturais (parte 1)


Setembro sempre foi o mês das minhas férias. É quando gosto de viajar, mas este ano não foi possível e confesso que não está sendo nada ruim ficar no Rio.

Primeiro de tudo, o prazer de ficar em casa e colocar em dias os livros, os filmes que estão atrasados e todas as temporadas de todos os seriados que acompanho. Coincidentemente, este ano o Rio de Janeiro resolveu aproveitar e transformar setembro em o mês das artes plásticas. É muita exposição boa acontecendo na cidade.

O mês começou com a ótima retrospectiva do artista inglês Antony Gormley no CCBB. Gormley é um artista muito conhecido pelas obras em larga escala, ele explora em seu trabalho o corpo humano e o espaço.




Logo ali do lado, a Casa França Brasil está tomada pela instalação de um dos artistas brasileiros mais bem conceituados: Waltércio Caldas. A exposição ïntitulada “Cromática” abriu dia 16 de agosto e fica até o dia 21 de outubro. Algumas das questões discutidas no trabalho do artista são o limite e o espaço.



Para quem gosta de andar pela cidade está acontecendo o “OIR” uma exposição outdoor com curadoria de Marcello Dantas, com várias intervenções espalhadas pela cidade. Podemos ver obras de artistas como Jaume Plensa, Robert Morris, Henrique Oliveira, Brian Eno e Andy Goldsworthy se misturando com a cidade e sua beleza natural.


O MAM inaugurou a maior exposição de Angelo Venosa com mais de 30 obras do artista, que tem mais de 30 anos de carreira e é muito bem estabelecido tanto no Brasil, quanto no mercado internacional.


Junto com tudo isso, o Rio também foi novamente sede da “ArtRio”, entre os dias 13 e 16 de setembro, uma das maiores feiras de arte do país. Quatro armazéns do Pier Mauá foram tomados por várias galerias do Brasil e do mundo. Gigantes do mercado nacional como a Fortes Villaça e do mercado internacional como a famosa Gagosian, de Nova York e a White Cube, de Londres. A ArtRio tinha como um de seus intuitos formar platéia e parece que conseguiu, eleito o evento do fim de semana pelos cariocas, recebeu a visita de aproximadamente 74.000 pessoas! Bom, né?





Finalmente, o Rio foi incluído no calendário das artes plásticas do país e todo mundo saiu de casa para conferir.

Para terminar o mês com chave de ouro, o Festival do Rio começa dia 27 de setembro e vai até 11 de outubro. O festival é um dos maiores da América Latina e este ano exibirá mais ou menos 400 filmes em 30 salas de cinema em todo o Rio. Vários diretores serão homenageados, como os portugueses Manoel de Oliveira e João Pedro Rodrigues e o documentarista brasileiro Alberto Cavalcanti, mas tenho que dizer que a que mais me deixou feliz é a que vai homenagear o diretor americano John Carpenter, diretor de clássicos como Aventureiros do Bairro Proibido e de um dos meus filmes de suspense preferidos “A Coisa” (The Thing). Vou correr para o cinema e ver esses filmes no telão, já que os vi apenas na TV. Sim, eu era bem pequena quando esses filmes passavam na Sessão da Tarde ou no Super cine. Vai ser ótimo poder ter a experiência cinematográfica completa.

Já sabemos que alguns filmes são garantidos, como o novo de Steven Sodebergh “Magic Mike”, “Pietá” do coreano Kim KI-Duk e o novo de Wes Anderson, “Moonrise Kingdom”. Sabemos de pouco ainda, agora é só esperar o resto da programação ser divulgada, correr para fila e garantir meus ingressos.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Reboots, remakes e que tais: cansei.


por Tatiana Laai

O infográfico abaixo (traduzido por Aventura de Ler) tem aparecido com bastante frequência nas timelines das redes sociais.  Ele nos revela que atualmente o cinema americano é mais do mesmo. O fato é que cada vez é maior o número de filmes americanos lançados como reboots (reinícios) ou continuações de franquias já bem conhecidas. E temos ainda os sequels (continuações), os remakes (refilmagens), os prequels (“prequência”, na verdade um prólogo ou início de uma história, mas com uma passagem anterior a do original). 

Clique na imagem para visualizá-la em tamanho grande.

Falta criatividade? É preguiça? É reciclagem?  Temos também as adaptações de histórias em quadrinhos e vídeo games pipocando por aí, e quase não temos produções originais. Por que? Hollywood ficou sem ideias? Os roteiristas não são talentosos? Ou o público não gosta de histórias novas? O que diabos está acontecendo com Hollywood? Se paro pra pensar no assunto encontro muito mais perguntas do que respostas. 

Existem diversas e distintas maneiras de fazer remakes, que são, basicamente, refilmar, refazer ou copiar um filme. Podem ser feitos a partir de filmes antigos, que tiveram mais ou menos sucesso, tentando representá-los na atualidade, e podem ser novas perspectivas sobre esses mesmos filmes. Mais do que uma cópia, pode ser um exercício de reinterpretação das ideias com um cunho marcadamente pessoal do realizador e que difere do original. Pode até ser um filme cuja ideia tivesse sido muito boa, mas que falhou na execução, e alguém quer agora dar nova roupagem.  Ou, pura e simplesmente, pode ser uma maneira de pegar num sucesso não americano e refazê-lo em inglês, para transformá-lo num sucesso universal, e que seja vendável principalmente nos EUA.

É esse tipo de remake, cada vez mais comum, o que mais me irrita, confesso. Parece falta de respeito pelo original e por quem trabalhou nele. Peguemos o filme Deixa Ela Entrar (“Låt den rätte komma in”/”Let The Right One In”), um dos melhores de 2008.  O filme sueco conquistou a crítica e venceu vários prêmios ao redor do mundo. Em 2010, estreou o remake falado em inglês.  Claro, porque reza a lenda que o público americano odeia ler legendas e gosta menos ainda de ouvir outros  idiomas.  Acho essa desculpa meio esfarrapada. Outro tipo é o do remake de filmes “antigos”. A desculpa aqui é que eles são uma maneira de apresentar filmes que foram feitos em outra época pra uma geração mais nova. Também acho essa desculpa furada. As novas gerações na podem ver o filme original? 


Não estou aqui para julgar se reboots, remakes e que tais são bons ou ruins. Na verdade, creio que vários deles têm potencial enorme para se tornarem filmes de qualidade, mas este não é o ponto. O fato é há quem arrisque nas ideias novas ou em adaptações de livros desconhecidos, seja no cinema espanhol, na Suécia, na Coreia ou noutro país qualquer. E Hollywood está com escassez de obras grandes e novas, talvez porque os estúdios não queiram investir muito dinheiro em projetos sem potencial comprovado, ou porque apenas queiram tirar mais dinheiro dos já conhecidos.  Possivelmente pelos dois motivos. Talvez o vilão nessa história seja o próprio caráter cada vez mais industrial do cinema, que visa o lucro acima de tudo, independente do país.  O que nos leva às infinitas continuações.

Você pode perceber facilmente que alguns filmes são tão legais que não precisam de continuações. Pegue Matrix, por exemplo. Ele precisava de duas continuações? Acho que não. Não vou julgar aqui a qualidade das continuações, mas ele não precisava de dois outros filmes para se firmar como um sucesso mundial. E a que se deve o sucesso do filme? Entre vários fatores, ao roteiro inovador. Ele não é uma adaptação ou um remake, ele tem uma história inovadora, que se baseia em conceitos de outros filmes, sim, mas que tem a coragem de criar um título e estilo próprio.  


Será que a ganância não permite que os grandes estúdios invistam tanto em ideias novas quanto em franquias já mundialmente conhecidas? Será que, com isso, a criatividade acaba limitada?  Na verdade, roteiristas e diretores não estão menos talentosos e com menos ideias.  A televisão americana hoje está muito mais criativa e bem sucedida do que o cinema. São diretores, roteiristas e atores de cinema que, cada vez mais, migram para a TV.  É só repararmos no  tanto que temos de séries muito boas fazendo sucesso. O fato é que, de uns tempos pra cá, produtores e estúdios investem cada vez mais no certo do que no incerto.

Continuações, remakes e adaptações não são novidades no cinema, como podemos ver no infográfico. Muitos clássicos e obras primas são adaptações de algum livro: O poderoso chefãoO silêncio dos inocentes e Drácula, são exemplos disso. Por outro lado, se a lógica do “não mexa nos clássicos” fosse seguida à risca pelos produtores, o mundo estaria privado de obras como o Drácula, de 1979, (um dos melhores já feitos sobre o personagem), do remake do clássico Drácula, com Bela Lugosi, e ficaríamos sem o Nosferatu, de 1979, dirigido por Werner Herzog.

E sem os reboots, não existira O Silêncio dos Inocentes, que é um reboot da tentativa de levar o personagem Hannibal Lecter para as telas, como tentaram fazer com o filme Manhunter, nos anos 80.  Scarface, dos anos 30, ganhou um remake com Al Pacino que se tornou referência. Muitos desses originais nunca entraram no panteão dos maiores filmes da história. Esse tipo de "reimaginação" é válida porque o realizador não estará mexendo numa obra já consolidada e conhecida do grande público. E o grande dilema atualmente é esse: como explorar uma propriedade intelectual consagrada, sem desgastá-la demais. Reinterpretações sempre serão bem vindas, contanto que haja aquela palavrinha mágica: bom senso.


De repente, as grandes bilheterias são quase sempre reboots ou adaptações de livros que já são best-sellers. Talvez seja preguiça de criar algo novo quando se pode copiar uma coisa já pronta e que já deu certo. Ou então, e muito provavelmente, talvez seja apenas vontade de ganhar dinheiro fácil - uma vez que o filme já existe, não é muito grande o desafio de refilmá-lo. Vai saber. Até gosto de filmes adaptados de obras literárias que já conheço, mas ficaria muito mais satisfeita em ver histórias novas e surpreendentes no cinema, e não só o mais do mesmo.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Meu Japonês Favorito

Gaki no Tsukai é, sem a menor sombra de dúvidas, o maior programa de comédia da televisão japonesa. Apresentado pela dupla Hitoshi Matsumoto e Masatoshi Hamada desde o início de 1989, o humor televisivo japonês, chamado de owarai, ganhou fama mundial através da internet e da cultura fansubber - fãs fluentes na língua do país, cujo papel é traduzir e sincronizar as legendas, disponibilizando - as em canais de compartilhamento de vídeo. Hoje, o programa possui um cast de cinco apresentadores e diversos convidados como, por exemplo, a dupla Yoiko.

Formada por Shinya Arino e Masaru Hamaguchi, esta dupla de otakus – termo para designar o obsessivo por cultura pop e vídeo games – faz cosplay de personagens do anime Gundam e participam de sketches que geralmente tiram sarro do jeito de ser japonês. No caso abaixo, se referir ao outro de maneira formal é retribuído com um tapa numa espécie de jogo chamado batsu, ou errado.


Foi justamente a partir desta paixão de Shinya Arino pela cultura otaku, que em 2003 surgia o GameCenter CX. Exibido no canal Fuji TV Two, o rapaz de cabelo ouriçado criava o exercício de perseverança mais divertido da televisão oriental: o de terminar jogos antigos e dificílimos em um só dia, custe o que custar. Em alguns casos, como o do infame Battletoads, ele precisou de dois. Veja a continuação do segundo dia abaixo:




Sendo um cara naturalmente simpático, com tiradas engraçadíssimas, capaz de manter o bom humor mesmo que tenha de repetir a mesma tarefa por 23 horas até terminar, Arino conquistou o Japão rapidinho. O público mandava recomendações de lugares que ele devia visitar para jogar em máquinas clássicas, geralmente despertando a nostalgia ou curiosidade do público.

A graça do programa era vê-lo dissecar o manual, se dedicando inteiramente a completar aquele jogo e somente parar quando não havia qualquer indício de sucesso, mesmo após inúmeras tentativas e trapaças para avançar um nível apenas. Quando isto acontecia, um estagiário mais preparado tomava seu lugar e tentava a sorte. Muitas vezes, não tinha jeito mesmo e nem uma multidão gritando ‘Ganbare!’ fazia efeito. De bom humor, Arino e o ajudante se desculpavam e gargalhavam de sua incapacidade.


Esta imagem abaixo é mais comum do que se imagina, já que várias horas de foco e disciplina em frente à televisão deixam qualquer um morrendo de dores de cabeça e uma irritação difícil de superar. O adesivo da testa se chama reikyaku e serve para esfriar a cabeça, literalmente.

     


Seu carinho e amor pelos jogos antigos, que marcaram a minha geração e a anterior a minha, fez de Shinya um verdadeiro porta-voz da cultura de jogos retrô, conferindo-o o título de ‘Retro Game Master’ nos Estados Unidos. Em 2007, foi lançado no Japão o jogo para Nintendo DS ‘Game Center CX: Arino no Chōsenjō’. Neste jogo, acredite se quiser, você joga releituras de clássicos do Nintendo, ou Famicon, em sua dificuldade padrão. É claro que a experiência do jogo atinge o mesmo nível de frustração costumaz para um jogo da época e, por este motivo, não é para muitos. Um excelente programa sobre vídeo games, o Classic Game Room, fez uma breve sinopse do jogo há poucos meses.



O carisma do apresentador era tamanho que a notícia de casamento de Arino se transformou num programa especial e os fãs de todas as idades pararam para vê-lo se casar.

Dia 18 de Setembro, a distribuidora Discotek Media lança um DVD americano com quatorze episódios legendados do meu japonês favorito.